Thursday, October 16, 2008

Cozidão Chinês

Para comemorar o Dia Mundial da Alimentação, resolvi fazer para meu almoço um cozido de inspiração chinesa (de Macau né?). Aqui vai a receita conforme eu improvisei.

Ingredientes:
  • Meio repolho verde/branco.
  • Meia florestinha de brócolis.
  • 1 cebola grande.
  • 2 cenouras grandes.
  • 1 pedaço de gengibre.
  • 3 tomates maduros.
  • Meia lata de milho verde.
  • Sal a gosto.
  • Salsa desidratada a gosto.
  • Coentro a gosto.
  • Alho frito.
  • Molho de soja (shoyu).
O tomate e o milho eu só coloquei porque estavam quase apodrecendo na geladeira e eu não gosto de desperdiçar, mas os dois não têm muito a ver com o clima chinês que eu queria dar ao rango. Recomendo fazer sem eles. Ao invés disso, pode acrescentar um pimentão amarelo cortado em tirinhas bem fininhas.

O bom de fazer comida chinesa é que os ingredientes são sempre picados em cubos de 2 a 3 cm de lado, o que deixa tudo bem fácil de preparar. Lavei tudo, descasquei, piquei, e fui me preparando para cozinhar.

Para preparar o cozido, comecei como sempre começo tudo de bom na minha vida: jogando uma talagada de azeite extra-virgem no fundo do panelão. Melhor seria usar óleo de amendoim, mas não tinha. Joguei então o sal e a cebola para ir cozinhando, pois precisaria da água da cebola para cozinhar os demais ingredientes. Nessa hora também joguei o molho shoyu, para ir impregnando na cebola.

Coloquei então o repolho, o brócolis, e a cenoura. Os tomates eu corte com pele mesmo, mas tirei o miolo e as sementes. O milho foi só pra dar uma corzinha e evitar o desperdício.

Deixei tudo cozinhando por um bom tempo, com a panela fechada. Minha panela tem tampa de vidro, que permite vigiar a comida sem destampar. Fui mexendo bem para o molho shoyu misturar com os ingredientes. O mais importante dessas comidas cozidas é deixar tudo cozinhar com calma, para ficar tudo molinho e com um gosto mais ou menos parecido. Essa mistura dos sabores dos ingredientes é que é a graça do negócio.

Deixei tudo em fogo baixo por um bom tempo, até o repolho e a cenoura ficarem moles, mas antes de ficar parecendo uma sopa. Também joguei o gengibre ralado e o alho frito (daqueles que vem pronto, um monte de alhinho picado e frito, igual o que vem no arroz-de-alho). O gengibre é essencial nessa receita, assim como o shoyu, para dar um sabor verdadeiramente oriental ao prato.

No final comi do jeito que estava mesmo, porque já estava morrendo de fome. Mas esse prato iria muito bem combinado com outras coisas. Por exemplo, se tivesse um espaguete pronto na geladeira, e uns cubinhos de carne de frango ou porco, misturaria tudo no panelão e faria um belo yakisoba. Mas só os legumes, sozinhos, deram conta do recado, e encheram minha pança com saúde e alegria.

Notas para a próxima vez que eu fizer esse prato: colocar mais alho, fritas o gengibre antes de tudo, colocar mais shoyu, não colocar tomate nem milho, colocar couve-flor. Fazer com macarrão e carne refogada em cubinhos. Molho de ostra.

Wednesday, October 15, 2008

Comidas Abstratas

Vocês já pararam para reparar na linha de biscoitos salgados da Piraquê?

Eles começam com o tradicional Água e Sal, que já é meio esquisito porque não tem gosto de água do mar.

Depois eles resolveram lançar um biscoito ainda mais revolucionário: o Biscoito de Água.

Não bastasse isso, agora temos também os biscoitos Água e Sal Light... e Água Light.

Sim, meus amigos. Tiraram as calorias até da água. Um biscoito feito de água... light. Como é que isso funciona? Eles tiram o oxigênio da água, e o hidrogênio fica mais leve? Ou será que a água normal tem gordura? Além de flúor, a Copasa anda colocando banha de porco na água que a gente bebe? Isso explicaria o cheiro da água de esgoto.

Qual vai ser a próxima invenção dos poetas por trás dos produtos Piraquê? Um Biscoito de Ar? Já comi muito pastel de vento, mas biscoito de ar ia ser revolucionário.

E por falar em meteorologia, o que dizer então dos "bolinhos de chuva"? Quando eu era criança, ficava imaginando que esse bolinho frito tinha gosto daquele cheiro que a gente sente logo que a chuva cai. É um mistura de cheiro de ar quente esfriando com cheiro de asfalto molhado. É um dos melhores cheiros que existem nesse mundo. Mas quando comi o bolinho, não senti nada disso - ele tinha gosto de farinha frita.

Bolinho de chuva, biscoito de ar... O que vem depois? Pastel de brisa? Pizza de crepúsculo?

Essas coisas me tiram o sono.

Discurso Inaugural

Sejam todos bem-vindos ao Culinária Punk Rock, o mais novo empreendimento da Poeira Entretenimento e Comunicação LTDA e o mais novo blog da Poeirosfera.

A idéia desse blog nasceu há muitos anos atrás, antes mesmo de existirem os blogs. Eu queria fazer um livro de culinária simples, para pessoas que nunca cozinharam na vida. Ensinar pessoas que não sabem nem fritar um ovo a se virarem na cozinha bem o suficiente para cozinharem todos os dias a própria comida. Agregar o conceito do "faça você mesmo" à cozinha do dia-a-dia, com a intenção de libertar as pessoas comuns das amarras do Miojo e da lazanha da Sadia. Um livro que ensinasse às pessoas uma das atividades mais básicas da raça humana: cozinhar!

Desde a aurora dos tempos que o ser humano prepara alimentos para o consumo. Nossos ancestrais da idade da pedra não sabiam ler nem escrever, mas já intuiam maneiras de melhorar sua própria alimentação. É o caso por exemplo do controle do fogo, e de seu uso não-bélico para cozinhar alimentos. De coletores passamos a caçadores, depois a lavradores, agricultores, e assim foi a evolução.

Ao longo de nossa História, a culinária se desenvolveu e refinou, tornando-se um sistema complexo e intrincado que alguns chamam de Arte Culinária. Em cada povo e nação do planeta desenvolveu-se uma culinária diferente, baseada nos ingredientes que existiam naturalmente em cada local. Aos poucos foram-se criando inúmeras combinações de ingredientes, temperos, formas de preparo e de consumo da comida.

Infelizmente, com o advento da indústria e do comércio, muitas pessoas se afastaram das panelas e do fogo, relegando sua própria alimentação à comida feita por outras pessoas, ou até mesmo por máquinas. Hoje em dia, nos países mais industrializados, cada vez mais as pessoas se alimentam de comida pré-fabricada, preparada com produtos químicos e processos excusos, embalada em pacotes e vendida aos milhões, cheia de conservantes, colorantes, acidulantes e outras presepadas.

O resultado disso apareceu rapidamente: os números referentes a doenças cardíacas e provocadas pela má nutrição disparou nesses tais países. Metrópoles culturais como Inglaterta e Estados Unidos deram um péssimo exemplo a suas colônias, que imitaram os primos ricos chafurdando na gordura congelada e nos alimentos processados.

Nesse cenário caótico e decadente, o que poderia ser mais punk do que cozinhar a sua própria comida? Se você quer uma coisa bem feita, faça você mesmo! Ninguém melhor do que você sabe do que você gosta e do que o seu organismo precisa para funcionar bem. Nós somos, literalmente, o que comemos, e cuidar de nossa própria alimentação é tão ou mais importante do que cuidar da pureza da água que bebemos e do ar que respiramos.

Façamos então um pacto pela saúde e pela liberdade de escolha. Vamos dar um bom exemplo às gerações futuras, começando essa revolução dentro de nossas casas, em nossos próprios pratos. Chega de porcarias sem cor e com gosto artificial, cheias de sal e substâncias desconhecidas. Tragamos de volta as cores e os aromas à nossa mesa. Vamos festejar a diversidade cultural através das comidas de todos os países, deixando os congelados para quem realmente precisa deles - os astronautas, por exemplo.

Nós, brasileiros, temos ainda mais motivos de nos orgulhar do que comemos. Vivemos em um país generoso em diversidade de alimentos, onde planta-se e cria-se de um tudo. Em que outro país do mundo poderíamos encontrar tantas carnes, frutas, legumes, grãos e bebidas tão variados quanto aqui? Bananas, pêssegos, morangos, abacaxi, limão. Dourado, linguado, merluza, cação e salmão. Pimenta do reino, de cheiro, dedo de moça e da Jamaica. É só escolher e botar no prato.

Chega de comer com pressa, e chega de comidas cinzas. Queremos verde, vermelho, amarelo, roxo, branco, preto, marrons! Cheiros e gostos diferentes todos os dias, e muitos nutrientes para os músculos e para o cérebro. Tomemos as rédeas de nosso destino alimentar!

Revolução no prato! Avante, companheiros!